quarta-feira, 11 de março de 2015

Vivendo um J-drama e momentos mágicos.

Sabe aqueles J-dramas onde a mocinha tá bem e de repente se vê com leucemia? Pois é, são histórias muito tristes, mas eu nunca pensei em viver esse drama na vida real... 
Esta sou eu logo depois de ter saído do Hospital Regional. Foram quadro dias internada pra observação, ou seja, não pude desenhar nada! Lá se foi toda a agenda de Garoto X.
Na sexta-feira comecei a sentir dores abdominais e elas pioraram à noite, então minha irmã chamou a ambulância porque eu não conseguia nem me manter em pé. Eu achei que tomaria uns soros e ficaria bem em duas horas, mas começou a virar um pesadelo. Era meia-noite, a médica suspeitou de apendicite e pediu exames de sangue e urina. O soro pra dor me fez muito mal, eu não conseguia ficar em pé para o raio-x. Aí chamaram a minha irmã pra me ajudar e tudo deu certo.Quando o exame chegou, veio alterado, sinal de que era mesmo uma apendicite. Na hora eu pensei, puxa, apendicite é algo sério, mas curável com uma cirurgia simples e rápida, algo de três dias. Então passei a noite lá em quanto a médica tentava vaga no Hospital para a cirurgia. Logo de manhã, já havia vaga! Beleza! Eu já estava bem melhor, tomei um banho sozinha e o enfermeiro estava animado e me disse pra colocar um gloss e divar! Eu ri muito dele. Adoro os enfermeiros gays. Entrei na ambulância com a minha mãe e a Shirubana e fomos sacolejando horrores até o hospital. Cada lombada uma dor terrível.
Chegamos e fomos direto para o PA do Hospital. A médica falou com um médico e ele me examinou, viu os exames e disse que o cirurgião viria logo para avaliar e começar a cirurgia. Foi aí que começou o pesadelo. A médica cirurgiã me apalpou e disse que não tinha uma dor tão intensa assim pra eu ir pra cirurgia. Então disseram que era porque eu tinha recebido medicação e estava sedada. A médica mandou tirar o remédio pra ver se a dor aumentava. Por dentro eu gritava "Me operem logo!Preciso desenhar!". Mas comecei a sentir um clima esquisito, os médicos começaram a vir aos montes, sete lindos médicos resolveram me examinar. Todos me torturaram apertando a minha barriga de hora em hora pra ver se eu gritava de dor. rsrs Eles começaram a especular sobre o que seria e eu comecei a ficar preocupada. Leucócitos alterados mostrando uma infecção, mas eles descartaram a apendicite e eu senti um estresse subindo, não bastasse estar bem em frente da cama onde meu pai faleceu de câncer. Quando se junta a palavra leucócito com plaquetas, a coisa muda de figura. Passei a noite lá, para no domingo, fazer uma tomografia com contraste.
O problema é que não se apagam as luzes, o barulho de máquinas e pessoas é constante. De hora em hora, os médicos  delícia vinham encher meu saco com exames. Ou seja, não dormi nada. Fora o horror da noite, corpos de guerra de gangues chegavam a todo momento. Jovens baleados e mortos não paravam de chegar. Pessoas sofrendo de dor, pernas quebradas, ataques cardíacos... Parecia um cenário de guerra mesmo. Mas até então eu estava bem. A dor foi diminuindo durante a noite e sumiu de manhã. Eu pensei, "ótimo, a infecção passou sozinha, mais um exame e estou livre!". Só que não. Os médicos acharam muito estranho a dor ter diminuído, ao invés de ser bom, parecia ruim. Leucócitos subindo...Não era apendicite, agora era inflamação no útero ou bexiga. Beleza, menos mal, pensei. Inflamação igual à antibiótico. Só que não! Não me davam nenhum remédio! Só vieram fazer exame retal, e me dar o contraste em copinhos com água muito gelada. Aí comecei a sentir uma dor horrível de novo. Não podia ir ao banheiro e a bexiga estava doendo demais!
Duas horas chorando de dor e implorando pelos copinhos de água gelada com contraste de meia em meia hora. Fui para a tomografia finalmente, já era de tarde no domingo, dia da Mulher... Fiz o exame numa máquina doida e finalmente pude ir ao banheiro!!! Como é bom urinar! E a dor sumiu... Contei pro príncipe dos médicos ( o mais gato de todos, que a dor vinha da bexiga!), Eu estava orgulhosa da minha descoberta! O problema era a bexiga! Mas ele achou interessante, mas foi embora cochichar com os outros... Eu queria ver a tomografia, mas não mostravam. Olhavam e saiam rasteiros igual à minha gata quando está com medo de algo. Enquanto isso, eu observava o drama dos colegas de quarto. Cada um com sua história, mas com a mesma vontade de dar o fora dali.
De noite, recebi visitas! Finalmente, a mãe, a minha irmã e o irmão mais velho apareceram! Junto com eles fiquei sabendo que estava com a bexiga muito inchada, o útero deslocado pro lado esquerdo  0-o e o intestino inchado também. Agora a médica trabalhava com um possível mioma ou útero policístico. Me senti no seriado do Doutor House... Um monte de médico experientes que não acham nada até o paciente estar quase morto. rsrs
A Shirubana e o Silvio, meu irmão mais velho, contaram que chegou um menor de 14 anos morto baleado na guerra de gangues. Eles estavam bastante abalados com isso. Quem diria que no interior iríamos ter algo terrível assim. Eu adorei ficar com meu celular, mas a enfermeira confiscou ele pra minha tristeza...Finalmente liberaram a comida! Tomei um chá verde super doce e comi bolachas de água e sal. Não era bem um jantar...
Parecia tudo certo pra eu ter alta na segunda depois de um ultra som. Mas eu estava muito abalada, mais uma noite ali, naquele lugar onde não se dorme... Foi uma noite estressante demais, não conseguia ficar relaxada com os exames, algo parecia muito errado. Eu tentava me tranquilizar porque enquanto nenhum médico fudidão, de cabelos brancos aparecesse, estava tudo bem. Sinal de que não era grave.
De manhã, me deram buscopam ( odeio ) e meprazona ( adoro ) e eu fiquei esperando o tal ultra e nada. Não tinha comido e nem bebido nada e isso tirou minhas forças. Almocei uma sopa. Comecei a chorar de ansiedade e a enfermeira veio saber o que era e eu expliquei que estava cansada com a luz e o barulho constante. Ela puxou a cortinha, mas era um cortina cretinamente furada, a luz entrava do mesmo jeito!! Mas valeu a tentativa... Não tive visita de manhã! Fiquei chateada. E a noite, me colocaram num quarto reservado... ao lado de uma menina que estava fazendo químio... Entendi o recado. Era sério, era leucemia. Tentei me ater ao fato de que pelo menos ali, podíamos dormir com a luz apagada e tinha banheiro. Aí começou meu desespero de verdade! Fui ao banheiro e ajoelhei pedindo à Deus pra que não fosse mesmo leucemia.
Eu olhava a coitadinha ao lado e ela tava perdendo cabelos, era uma figura triste, mal falava. Jovem, muito jovem. Mas ela tinha essa dádiva, a juventude. Mas e eu? Eu não sou tão jovem, uma leucemia na minha idade, pode ser fatal. Meu pai morreu em questão de dias da mesma doença. Mas eu estava com a sorte de estar internada e ainda "bem". Será que eu teria alguma chance? Chance de pelo menos fazer químio? Seria ótimo ter uma chance que meu pai não teve. Resultado, não dormi mesmo!
Às três da manhã, eu levantei, peguei a bolsinha que a Shirubana me deixou com coisas de higiene pessoal ( a única coisa que não foi confiscada ) e lá dentro havia um bloquinho de notas. Resolvi escrever meu testamento. Eu sei que isso parece dramático pra vocês, mas eu estava vendo a morte na minha frente. Comecei a escrever só com a luz da janela. Fui escrevendo aos prantos, pensando em cada um e principalmente na minha irmã. Não íamos juntas ao Japão, eu nem sequer poderia ter a chance de ir no show do Kamijo e nem lançar mais um mangá. Que desgraça acabar assim.
Mas de repente, virei a folhinha e havia um bilhete da Shirubana, intitulado " a cura ", eu pensei "que danada", ela escreveu um bilhete secreto e ainda fingiu que não havia nada na hora da visita. Ela tinha me visto treinando os katakanas e hiraganas no bloquinho e nem disse nada!
O bilhete determinava que eu ficasse boa, com saúde e que iria voltar logo pra casa pra desenhar muitas páginas. Eu chorei muito, desisti do testamento porque eu tinha esquecido da Lei da Atração.
Eu estava me entregando em quanto a minha irmã fazia a Lei da Atração pra mim.
Consegui relaxar e dormir. Mas de manhã, veio a matilha das enfermeiras, quando trocam de turno, elas apresentam ( de novo) os paciente e suas doenças. Ela disse, essa é a Sônia, ela está sob observação por causa de uma dor que está sendo avaliada. Uma das enfermeiras disse "Ainda? Faz dias que estão avaliando", todas riram. Elas riem muito, de tudo... E essa é a Elisa, ela está fazendo químio, mas deu entrada pra internação por causa de uma pedra nos rins.
Na porta, a chefe da matilha disse baixinho, mas pra eu ouvir. É a mesma coisa da Sônia, mas ela está com suspeita de leucemia. Todas saíram.
Nessa hora minha alma saiu do corpo. Era o fim... Nem considerei a palavra "suspeita". Fiquei tão tensa que não conseguia pensar. Só pensava no choque que isso seria pra minha família e amigos. Me levaram do reservado para o grupo de antes. Foi bom, não conseguia olhar mais para a pobre Elisa.
Resolvi bater papo com a colega ao lado até a sentença chegar. Os médicos passavam e me viam rindo e conversando com a colega e olhavam estranho. Até que chegou um dos príncipes ( da morte ) e me disse que como as dores haviam parado, não havia motivo para cirurgia. Eu nunca quis tanto ter apendicite! Então, puxei " e os leucócitos? Ele disse que estavam bastante alterados, mas só eles em si, não davam motivos para uma internação. Eu ia pra casa e só voltaria e voltaria apenas para fazer exames clínicos e passar na médica pra ver se os leucócitos diminuíram.
Nessa hora eu fiquei tão feliz que poderia beijá-lo. Tudo era melhor que ficar mais um dia ali. Pedi meu celular pra enfermeira e liguei pra Shirubana vir me buscar. Mas eu estava tão nervosa que comecei a enjoar. Fingi que estava tudo lindo comigo, me troquei no banheiro e passei gloriosa pelo corredor.
Pensei "tenho que passar pela porta sem cair"... Então saí e vi minha mãezinha sentada lá e fui correndo abraçá-la. Não vi a Shirubana porque ela estava no banheiro. Ela chegou e nos abraçamos finalmente, e saímos de lá. Marquei meu exame e fomos comer na padaria do Jarbas. Nossa, como era bom estar fora do pesadelo!
Liguei pro irmão e marcamos um jantar de boas vindas em casa. O Ju-Sama veio de tarde, ele lamentou que eu não tinha morrido, porque queria meus gashapons de herança! kkkk Só o Ju pode brincar assim comigo. 
Então, mais tarde, eu mostrei o bilhete pra Shirubana agradecendo e ela disse "mas eu não lembro de ter escrito esse bilhete".
Como assim? Eu perguntei. O fato é que ela jogou o bloquinho na bolsinha e saiu às pressas pro hospital. Mas não lembrava que havia escrito aquelas palavras! Ficamos pensando, como e quando e por que ela escreveu aquele bilhete? E como eu o li bem naquela hora do testamento? O bilhete dizia que eu ficaria boa e voltaria logo pra casa. Eu nunca fiquei internada na vida, nem quando estava com dengue. Esse bilhete não tinha motivo para ser escrito antes. Era a letra da Shirubana... Foi um momento mágico pra nós.^^ Um recado escrito, sabe-se lá quando e por que, mas entregue no momento certo.
Hoje eu to descansando e pretendo desenhar Garoto X. O jantar de ontem foi ótimo, eu não passei mal e recebi muito carinho dos amigos do face e dos outros que tenho. Eu li tudo e fiquei tão feliz com a força que me deram. Eu ainda não sei o que eu tenho, nada foi descartado, nem a leucemia, mas estar em casa é a melhor coisa do mundo! Doumo arigatou a todos e a Deus por me ajudar nos piores momentos. Pretendo não me abalar até tudo estar esclarecido.


Nenhum comentário:

Postar um comentário