sexta-feira, 19 de junho de 2015

Arte e religião, combinam?

Olá, pessoas queridas! Quanto tempo, né? Estou trabalhando no mangá Garoto X, mas com tanta coisa acontecendo, eu não consigo fazer muitas páginas por dia. Estou indo a semana toda no PROCON para poder ter meu dinheiro de volta. Que dinheiro? O dinheiro dos ingressos para o show do Kamijo que não aconteceu... Estou chocada com tudo que fizeram com o meu ídolo. Primeiro, descobri que a empresa responsável pelo show aqui, ia colocar o Kamijo num hotel de quinta categoria! E que ele ganha muito pouco por show, bem menos que artistas daqui... E ainda trazem os artistas com visto de turista ao invés de visto de trabalho. Tudo para não pagar impostos! E a tal empresa ainda lucra com o japoneses que nem sequer recebem as vezes, trabalham de graça, só por passagem. Como diz meu amigo, Brasil sendo Brasil... Amanhã continua a minha peregrinação ao Procon, tenho que levar cópias de documentos e pronto! Tudo certo! Só esperar a justiça agir.^^
Nem tive tempo de montar a prévia de Garoto X pra vocês lerem no blog do Futago Estúdio.
Enquanto isso, a Shirubana pinta a capa de GAN, nosso projeto shounen. A capa é bem difícil, pois tem muitos personagens juntos. 
Depois da parada gay, surgiu uma discussão sobre a trans  vestida de Cristo. Aí, vi muitos mangakás horrorizados com o desrespeito dela. Bom, eu que fiquei chocada, vendo gente que curte hentai e ecchi, e até fazem mangá hentai pervertido, de repente virarem grandes cristãos que leem Bíblia e tal... Eu acho que religião e arte não se misturam. Saí da Igreja Católica aos dezoito anos, não aguentava mais aquilo, que não fazia mais sentido na minha vida. Minha avó ficou muito brava, achando que virei ateia... Toda comunidade cristã veio saber o que aconteceu. Eu creio em Deus sim, mas em cultos eu só vou pra fazer uma social. Não acho que é legal, alguém como eu, que faz mangá, ficar dando de hipócrita e bancando a santa nas Igrejas. Eu acho que muita coisa da religião começou a ficar obsoleto, como mulheres não poderem realizar missas. E em Igrejas onde elas podem, sempre tem aquele papo de que somos impuras. Não existe liberdade em religiões. Não para mim, que sou artista. Tudo que o artista pensa e faz, é meio que considerado errado. Então, saltei fora! Na religião não existe espaço para mudanças de pensamento. Uma coisa me deixou perplexa ao ler o Evangelho!Jesus pedia para não escreverem sobre ele e que não queria Igreja...Depois Jesus faz a Igreja...Pena que não sou carola de Bíblia pra dar as coordenadas disso. rsrs Minha irmã mais velha diz que adoro inventar passagens Bíblicas, porque nunca sei onde li. 
Eu lembro que uma amiga minha tinha uma tia evangélica que ficava falando que eu e a minhã fazíamos a arte do demônio! Ou seja, mangá...Me digam, se muitos pensam isso sobre mim e a minha irmã, por que diabos (ops! ) eu vou me enfiar numa Igreja ou religião? Pra abandonar o mangá e ficar rezando com essa gente preconceituosa? Desculpe, mas não! Eu nunca falei mal deles, os religiosos, mas levo chumbo deles sempre! Acho que me sinto como a trans, crucificada... Mulher não tem vez em Igreja nenhuma! Por que eu vou me enfiar numa armadilha dessas? É burrice. 
Tenho uma amiga que vai morrer virgem. Ela já tá na casa dos cinquenta e quer um homem, mas a religião deixou ela tão travada que ela acha que está na idade média! Não pode nem sequer trocar uma ideia com um homem, nem da sua própria Igreja porque acha que pega mal. hahaha Ela não dá o primeiro passo, ela acha que o homem é que tem que dar. Tem gente que não sabe nem o que vestir de manhã pra não ofender Deus. Eu só fico rindo. Outra conhecida minha é Batista ( aquela religião que acha que o Mickey e a Minie são gays...). Quis tanto proteger a filha que a menina engravidou adolescente e nem sabia que estava grávida, descobriu quando a criança estava para nascer. Bom, se vc não sabe o que é sexo... de repente faz e nem sabe. O que adianta religião rígida? Ninguém segue. O que adianta não falar das coisas do mundo para os filhos?
As vezes eu me atrevo a pensar como seria o mundo sem Jesus, sem Bíblia? Será que seríamos como o Japão? hum...cheio de mangás? hum...com um bom salário? hum...acho que não. rsrs O Japão tinha 6 condenados a morte. Enquanto nos EUA cristão tem milhares de condenados no corredor da morte. O problema do Japão tbém tem a ver com religião, o Budismo  e o Xintoísmo, que também são machistas. O melhor mesmo seria não termos religião. Essas coisas que colocam cabrestos em artistas...
E quando artistas tentam mostrar sua fé em arte, fica uma coisa estranha pra caramba. As vezes forçadona, sem graça. Eu lembro que eu tinha uma amigo de correspondência que queria fazer um mangá cristão ( ai que vontade de chorar ), e eu nunca falei nada, até queria ler essa coisa sem violência, sem sexo, sem nada... O fato foi que, como tudo era meio que "ruim" num mangá, ele foi podando, podando, e descobriu que não saia nada. Não podia fazer um bom vilão porque as pessoas gostam. Nem uma menina sensual porque isso também não pegaria legal... Resultado, o mangá cristão era tão santo que não podia ser feito! Mas aí, fazer mangá gospel pra um público otaku, que não curte religião, que curte gays, j-rock, etc, talvez não seja algo que pegue. Se o mangá é coisa do demônio, nem os religiosos vão querer ler. E é engraçado como eu vejo muita coisa bonita nos mangás, não sei se o povo cristão bitolado foca apenas em coisas ruins do roteiro, que são criadas para a história andar, mas tem muita coisa legal, que ensina a gente. São inspiradoras. O sexo é algo que todos fazemos, mas ninguém quer ver. O mundo é muito estranho. Um bom mangá, não precisa ser santo pra gente ler coisas boas. E convenhamos, somos adultos e sabemos separar o certo do errado dentro de uma história, e bobos os que acham que um jovem não é capaz de entender o que lê. 
Eu vi muitos pais apavorados com seus filhos jogando Yuugi Yo. Mas não era por ser jogo, e sim por ser mangá. O truco pode, o carteado pode, mas Yuugi Yo não. É coisa do demo.
Nisso tudo, penso que talvez as pessoas estejam exagerando, querendo que Deus puna as outras, sentindo uma revolta sem sentido, sendo que no Pai nosso, a gente reza "perdoai-nos como perdoamos a quem nos tem ofendido"...




quinta-feira, 4 de junho de 2015

A autonomia do mangaká.

Olá! Quanto tempo, né? Antes de falar sobre o assunto de hoje, eu gostaria de dizer que estou trabalhando no meu novo mangá, Garoto X, volume 1. Estou na fase da artefinal e a minha irmã está me ajudando pra terminarmos logo.^^ Ao lado uma foto de uma das páginas.

Mas vamos ao assunto de hoje.^^A autonomia do mangaká. Trocando em miúdos, autonomia é a capacidade de governar-se pelos próprios meios. 
Estou me referindo a isso porque, ultimamente, em minha andanças pelo facebook, notei uma coisa em comum entre os mangakás iniciantes e também nos profissionais; não fazem nada sem ter opinião dos outros. Dá até a impressão de que não entendem nada do que querem fazer. Vou dar um exemplo:
Uma pessoa fez uma enquete perguntando se as pessoas comprariam mangás feitos por brasileiros. Perdão à pessoa que perguntou isso, mas eu nem tive vontade de responder... Outro autor perguntou se as pessoas pagariam para ler uma webcomic sua... E alguns me perguntam coisas como "quantas páginas devo fazer no meu mangá?", "devo enviar para qual editora?", "Soni, devo registrar a obra antes de enviar para as editoras?", ou ainda " Você acha que este tema é bom pro mercado?"... São até perguntas pertinentes, porém, comecei a me incomodar um pouco. Percebi que os autores de mangá estão sem autonomia. Talvez devam começar a decidir coisas por eles mesmos, ao invés de perguntar antes se devem, ou podem, ou se é boa ideia.
Eu acredito que nós autores devemos "pagar" pra ver.  Porque no fundo, é o autor que tem o poder de fazer a coisa a seu modo, da maneira que acha que ficaria mais bacana, segundo seu próprio senso. Que importa se o mangá é feito por um chimpanzé? É mangá, não é? Alguém vai comprar, a não ser que esteja muito ruim... 
Alguém vai pagar pra ler sua webcomic? Faça! Depois veja se vendeu. É impossível prever o que será sucesso ou não. Perguntam até quanto dariam por ela. O preço pode ser decidido pelo autor com um pouco de pesquisa no google, basta tirar uma média, não precisa perguntar quanto pagariam por seu mangá online. Chega a parecer que está mendigando leitores, querendo agradar todo mundo e ao mesmo tempo querendo saber se seu trabalho valeria alguma coisa. Usar o senso é bom às vezes. E você? Você compra webcomic? Quanto vc paga em média por elas? Quais chamam sua atenção? Pergunte-se! Decida!
E se eu disser que pra um mangá ser bom, tem que ter 500 páginas? Aí a pessoa vai dizer que pra ela fica difícil chegar nessa quantidade. Realmente, não seria melhor usar o senso e ver por você mesmo quantas páginas você quer fazer/é capaz de produzir em determinado tempo?
Eu estou começando a ficar preocupada, nem mesmo a decisão de registrar ou não a obra é difícil pras pessoas. A pergunta na verdade é essa "Soni, acho que gastar com o registro é bobagem/não tenho grana, será que posso deixar sem registro mesmo? Mas não quero ser roubado, afinal minha ideia pode ser roubada pelas editoras malvadas". A resposta é óbvia... 
Talvez essas dúvidas sejam parte do medo, da insegurança e da baixa autoestima do desenhista brasileiro. O que eu faço? Como faço, pra quem mando? É boa ideia? Gente! Cadê a autonomia? 
Tem gente que pergunta coisas muito sérias como "devo deixar de fazer a faculdade e tentar o mangá?". Espere aí, quem tem que tomar essa decisão é a pessoa que perguntou. Não eu! Ou você está certo de tentar ou não. E precisa mesmo largar uma coisa pra fazer outra? Use o senso. 
Engraçado que para desistir do mangá, ninguém pergunta se deve, vem logo com um texto no face dizendo que decidiu largar tudo! Não volta atrás nem com súplicas dos amigos. As vezes o sucesso vem da decisão de alcançá-lo. Que se dane a opinião alheia! rsrs Eu nem sequer perguntei pra Shirubana se podia enviar Vitral pra HQM, eu disse "Vou enviar Vitral pra HQM". Ela disse, "Hum, não vai dar em nada, mas pode tentar." Eu disse "o máximo que pode acontecer é não ser nem respondida". E isso, com muita gente, até do meio, dizendo que BL nunca seria publicado no Brasil, que queimaria as editoras. Se a gente acreditasse nisso, que a maioria dizia, nunca teria tentado.
Não sei se estão entendendo onde quero chegar. Mas acho que um mangaká deve tomar suas próprias decisões, lançar suas ideias sem medo, e sabendo que pode fracassar na primeira tentativa! Porém, com a esperança de que vai dar certo. É melhor isso que ficar perguntando pra todos o que deve fazer pra depois não fazer. E pior, depois que dá errado, culpar as pessoas que decidiram por ela. 
A pergunta já é sinal de que não existe uma real vontade de fazer a coisa dar certo. A pesquisa de mercado é diferente de insegurança. Tem gente que tem a faca e o queijo na mão, mas não avança, fica apenas especulando no face. 
Alguns acabam desistindo porque o tal editor lá falou que shoujo não vende, aí larga seu projeto. Mas não passa pela cabeça da pessoa que talvez esse editor não saiba vender o shoujo, ele é especializado em vender shounen e não se preocupou em fazer outra estratégia de venda. Então, a pessoa fica eternamente perguntando " será que devo lançar meu shoujo?". 
E quando decidem lançar ficam naquela lenga-lenga de "faço impresso ou online?". Gente...faz o que tá mais à mão! Ou faz algo que seja um desafio, pra ter experiência pelo menos.  Mas quem decide é a pessoa.  As vezes a pessoa nem tá podendo lançar um impresso, não tem condições pra isso e pergunta se deve ser impresso. Todos querem o impresso e o autor fica num mato sem cachorro! 
No mundo de hoje, temos que nos jogar no escuro um pouco. Afinal, o que vc vai perder tentando? E o que há de errado com a sua ideia que precisa de apoio de todos, da opinião de todos, e da compreensão de todos? Quem acredita em si, não fica perguntando. Vai lá e faz. Perde dinheiro, fracassa, mas se é realmente é o que quer, vence! 
Uma pergunta que todo autor faz pra si mesmo é se é bom ou se não passa de um autor medíocre. Mas só existe uma maneira de saber, é fazendo a obra. Depois que vc lançar online ou impresso, alguns até vão falar que vc não é tão bom assim. O que é um elogio na verdade, pois vc não é TÃO BOM assim, mas não é ruim. rsrsrs E nem medíocre. Na minha visão, perguntar se vale a pena antes de fazer qualquer coisa, não ajuda em nada. É preciso ter autonomia.^^

Por favor, me desculpem quem já me perguntou coisas assim. Eu respondi, mas acho que tá na hora de todos irem sozinhos e com mais coragem e posicionamento. Posso estar sendo um pouco dura e até insensível, mas eu já levei essa na cara até entender que tem coisa que a decisão só cabe a nós, os autores. Uma coisa que é boa pra uns é ruim pra outras e cada um deve achar seu peso e sua medida. Não digo ser arrogante, do tipo que fica dizendo que faz o que quer, a hora que quer e é grosso com as pessoas. Mas ser sincero com vc mesmo como autor e saber decidir. Não colocar sua obra em enquetes de "será que vai vender", isso não é pesquisa. Por acaso vcs já viram uma empresa perguntar pro consumidor se determinado produto novo vai vender, vcs vão comprar? Esse creme de tirar rugas feito por brasileiro, vcs comprariam? Isso é decisão que cabe a empresa. O público tem que ser conquistado. Toda escolha tem uma consequência.Mas vale pela experiência depois. É melhor ter o produto e perguntar o que acham dele, ao invés de perguntar se vale a pena fazê-lo.^^