quinta-feira, 4 de junho de 2015

A autonomia do mangaká.

Olá! Quanto tempo, né? Antes de falar sobre o assunto de hoje, eu gostaria de dizer que estou trabalhando no meu novo mangá, Garoto X, volume 1. Estou na fase da artefinal e a minha irmã está me ajudando pra terminarmos logo.^^ Ao lado uma foto de uma das páginas.

Mas vamos ao assunto de hoje.^^A autonomia do mangaká. Trocando em miúdos, autonomia é a capacidade de governar-se pelos próprios meios. 
Estou me referindo a isso porque, ultimamente, em minha andanças pelo facebook, notei uma coisa em comum entre os mangakás iniciantes e também nos profissionais; não fazem nada sem ter opinião dos outros. Dá até a impressão de que não entendem nada do que querem fazer. Vou dar um exemplo:
Uma pessoa fez uma enquete perguntando se as pessoas comprariam mangás feitos por brasileiros. Perdão à pessoa que perguntou isso, mas eu nem tive vontade de responder... Outro autor perguntou se as pessoas pagariam para ler uma webcomic sua... E alguns me perguntam coisas como "quantas páginas devo fazer no meu mangá?", "devo enviar para qual editora?", "Soni, devo registrar a obra antes de enviar para as editoras?", ou ainda " Você acha que este tema é bom pro mercado?"... São até perguntas pertinentes, porém, comecei a me incomodar um pouco. Percebi que os autores de mangá estão sem autonomia. Talvez devam começar a decidir coisas por eles mesmos, ao invés de perguntar antes se devem, ou podem, ou se é boa ideia.
Eu acredito que nós autores devemos "pagar" pra ver.  Porque no fundo, é o autor que tem o poder de fazer a coisa a seu modo, da maneira que acha que ficaria mais bacana, segundo seu próprio senso. Que importa se o mangá é feito por um chimpanzé? É mangá, não é? Alguém vai comprar, a não ser que esteja muito ruim... 
Alguém vai pagar pra ler sua webcomic? Faça! Depois veja se vendeu. É impossível prever o que será sucesso ou não. Perguntam até quanto dariam por ela. O preço pode ser decidido pelo autor com um pouco de pesquisa no google, basta tirar uma média, não precisa perguntar quanto pagariam por seu mangá online. Chega a parecer que está mendigando leitores, querendo agradar todo mundo e ao mesmo tempo querendo saber se seu trabalho valeria alguma coisa. Usar o senso é bom às vezes. E você? Você compra webcomic? Quanto vc paga em média por elas? Quais chamam sua atenção? Pergunte-se! Decida!
E se eu disser que pra um mangá ser bom, tem que ter 500 páginas? Aí a pessoa vai dizer que pra ela fica difícil chegar nessa quantidade. Realmente, não seria melhor usar o senso e ver por você mesmo quantas páginas você quer fazer/é capaz de produzir em determinado tempo?
Eu estou começando a ficar preocupada, nem mesmo a decisão de registrar ou não a obra é difícil pras pessoas. A pergunta na verdade é essa "Soni, acho que gastar com o registro é bobagem/não tenho grana, será que posso deixar sem registro mesmo? Mas não quero ser roubado, afinal minha ideia pode ser roubada pelas editoras malvadas". A resposta é óbvia... 
Talvez essas dúvidas sejam parte do medo, da insegurança e da baixa autoestima do desenhista brasileiro. O que eu faço? Como faço, pra quem mando? É boa ideia? Gente! Cadê a autonomia? 
Tem gente que pergunta coisas muito sérias como "devo deixar de fazer a faculdade e tentar o mangá?". Espere aí, quem tem que tomar essa decisão é a pessoa que perguntou. Não eu! Ou você está certo de tentar ou não. E precisa mesmo largar uma coisa pra fazer outra? Use o senso. 
Engraçado que para desistir do mangá, ninguém pergunta se deve, vem logo com um texto no face dizendo que decidiu largar tudo! Não volta atrás nem com súplicas dos amigos. As vezes o sucesso vem da decisão de alcançá-lo. Que se dane a opinião alheia! rsrs Eu nem sequer perguntei pra Shirubana se podia enviar Vitral pra HQM, eu disse "Vou enviar Vitral pra HQM". Ela disse, "Hum, não vai dar em nada, mas pode tentar." Eu disse "o máximo que pode acontecer é não ser nem respondida". E isso, com muita gente, até do meio, dizendo que BL nunca seria publicado no Brasil, que queimaria as editoras. Se a gente acreditasse nisso, que a maioria dizia, nunca teria tentado.
Não sei se estão entendendo onde quero chegar. Mas acho que um mangaká deve tomar suas próprias decisões, lançar suas ideias sem medo, e sabendo que pode fracassar na primeira tentativa! Porém, com a esperança de que vai dar certo. É melhor isso que ficar perguntando pra todos o que deve fazer pra depois não fazer. E pior, depois que dá errado, culpar as pessoas que decidiram por ela. 
A pergunta já é sinal de que não existe uma real vontade de fazer a coisa dar certo. A pesquisa de mercado é diferente de insegurança. Tem gente que tem a faca e o queijo na mão, mas não avança, fica apenas especulando no face. 
Alguns acabam desistindo porque o tal editor lá falou que shoujo não vende, aí larga seu projeto. Mas não passa pela cabeça da pessoa que talvez esse editor não saiba vender o shoujo, ele é especializado em vender shounen e não se preocupou em fazer outra estratégia de venda. Então, a pessoa fica eternamente perguntando " será que devo lançar meu shoujo?". 
E quando decidem lançar ficam naquela lenga-lenga de "faço impresso ou online?". Gente...faz o que tá mais à mão! Ou faz algo que seja um desafio, pra ter experiência pelo menos.  Mas quem decide é a pessoa.  As vezes a pessoa nem tá podendo lançar um impresso, não tem condições pra isso e pergunta se deve ser impresso. Todos querem o impresso e o autor fica num mato sem cachorro! 
No mundo de hoje, temos que nos jogar no escuro um pouco. Afinal, o que vc vai perder tentando? E o que há de errado com a sua ideia que precisa de apoio de todos, da opinião de todos, e da compreensão de todos? Quem acredita em si, não fica perguntando. Vai lá e faz. Perde dinheiro, fracassa, mas se é realmente é o que quer, vence! 
Uma pergunta que todo autor faz pra si mesmo é se é bom ou se não passa de um autor medíocre. Mas só existe uma maneira de saber, é fazendo a obra. Depois que vc lançar online ou impresso, alguns até vão falar que vc não é tão bom assim. O que é um elogio na verdade, pois vc não é TÃO BOM assim, mas não é ruim. rsrsrs E nem medíocre. Na minha visão, perguntar se vale a pena antes de fazer qualquer coisa, não ajuda em nada. É preciso ter autonomia.^^

Por favor, me desculpem quem já me perguntou coisas assim. Eu respondi, mas acho que tá na hora de todos irem sozinhos e com mais coragem e posicionamento. Posso estar sendo um pouco dura e até insensível, mas eu já levei essa na cara até entender que tem coisa que a decisão só cabe a nós, os autores. Uma coisa que é boa pra uns é ruim pra outras e cada um deve achar seu peso e sua medida. Não digo ser arrogante, do tipo que fica dizendo que faz o que quer, a hora que quer e é grosso com as pessoas. Mas ser sincero com vc mesmo como autor e saber decidir. Não colocar sua obra em enquetes de "será que vai vender", isso não é pesquisa. Por acaso vcs já viram uma empresa perguntar pro consumidor se determinado produto novo vai vender, vcs vão comprar? Esse creme de tirar rugas feito por brasileiro, vcs comprariam? Isso é decisão que cabe a empresa. O público tem que ser conquistado. Toda escolha tem uma consequência.Mas vale pela experiência depois. É melhor ter o produto e perguntar o que acham dele, ao invés de perguntar se vale a pena fazê-lo.^^



2 comentários:

  1. Fico imaginando como o autor Kawada, que atualmente está fazendo um mangá sobre Sumô na JUMP (muito bom, por sinal!), ficaria se dependesse da opinião alheia...
    Sumô, hoje em dia, é um esporte fora de moda até no Japão! Se ele fosse brasileiro e perguntasse "Ei, gente, vocês leriam um mangá meu sobre sumô?" tenho certeza que o numero de pessoas que diriam que leriam seriam próximas de zero! Em compensação, o mangá já completou um ano (um feito nada pequeno na JUMP) e, apesar de não estar vendendo tanto, pega ótimas posições dentro da JUMP, mostrando que tem qualidade e uma base de leitores pequena, mas fiel!

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    1. É um ótimo exemplo, HQ! Eu também penso que nem todo tema tem que ser pedido pelo público, principalmente se o autor pode dar ao leitor uma coisa diferente, mesmo se o tema é batido. É um risco, mas vale a pena tentar. O filme AVATAR tbém foi feito 10 anos depois que o tema já tinha "esfriado" no mercado. E acabou sendo sucesso.^^

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